Conhecer culturas diferentes, aprimorar o idioma, aventurar-se em terras desconhecidas e, até mesmo, seguir uma carreira no mercado de trabalho estrangeiro. Estes são alguns dos pensamentos de muitos jovens que, atualmente, alimentam o sonho de fazer um intercâmbio. Somente no ano passado, mais de 230 mil brasileiros realizaram este sonho.

– Em média, recebemos 45 estudantes por semestre e enviamos 65 para as instituições conveniadas no exterior, sendo que os países mais procurados são Portugal, Espanha e Estados Unidos. Recebemos mais estudantes da França, Colômbia e Espanha, explica Nei Alexandre Rech, Assessor de Relações Internacionais da Universidade de Caxias do Sul.

Rech também lembra que os principais pré-requisitos para um aluno da UCS fazer intercâmbio é ter 50% dos créditos cursados e falar o idioma do país escolhido.

Colombianos trazem suas perspectivas sobre o intercâmbio no Brasil

Se muitos brasileiros têm o sonho de fazer intercâmbio em outro país, a vontade torna-se recíproca dos estrangeiros que também sonham em conhecer nosso país. Kereny Jemima Moncayo Galindo e Daniel Ignacio Nieto Restrepo são colombianos, ambos estudantes de Jornalismo que realizam intercâmbio na UCS.

Foto: Joeldine Motta de Andrade
Foto: Joeldine Motta de Andrade

– A visão que eu tinha de intercâmbio era para abrir minha mente a novas culturas, começar a expandir o conhecimento intelectual e cultural, descobrir e explorar o que o Brasil oferece para os estrangeiros, conta Kereny.

Vontade de aprender, é o que marca a fala de Kereny. Para Daniel, as emoções do crescimento pessoal também têm sua importância:

– É uma experiência totalmente diferente das que já havia vivido. Era um sentimento de emoção, mas também uma decisão de fortalecer o caráter, a visão era de aprender tudo.

Pode parecer estranho um estrangeiro querer conhecer o Brasil. Nosso país é reconhecido lá fora como o país do futebol e do carnaval. Logo, quem vem de fora estranha o fato de o país possuir outras tantas diferentes culturas regionais que não se resumem apenas em futebol e samba. Mas eles têm seus motivos e suas visões sobre o Brasil:

– Considero que o Brasil é um país que tem muito território interessante para explorar. É o maior país da América Latina, que inclui uma formação de economia, cultura e educação diferentes do meu país, e é por isso que eu o escolhi. Agora que estou aqui, vejo que as pessoas são muito simpáticas, mas o estilo de vida é muito diferente da Colômbia. Mudei minha visão porque parece haver muito cuidado com a natureza, o que eu nunca imaginei que houvesse neste lugar, ressalta Kereny.

Daniel é mais intuitivo e direto:

– Quando era pequeno, eu tive um sonho com este país, literalmente sonhei que estava neste país, então eu o escolhi. Você sempre acha que o Brasil será samba ou carnaval em todos os lugares, e não é, é alegre, e os costumes são diferentes do que pensávamos. Quando chegamos, o contato com as pessoas, a ecologia, a arquitetura é mais parecida com uma cidade da Europa, do que com uma cidade latino-americana. Agora quando eu penso no Brasil, penso mais nas pessoas do que nos lugares, eu acho que a verdadeira riqueza do Brasil está nas pessoas.

Engana-se quem pensa que Kereny e Daniel não têm problemas de adaptação. Além da língua, o custo de vida aqui em Caxias do Sul torna-se uma das dificuldades a serem enfrentadas:

– Enfrento a dificuldade de aprendizagem da língua, pois o português apresenta uma gramática complexa e difícil de compreender. Também enfrento problemas econômicos, pois Caxias tem um custo de vida muito caro, é muito diferente da Colômbia, garante Kereny.

As mesmas dificuldades são sentidas por Daniel:

– Atualmente, a dificuldade maior é a escrita. De igual modo, pensava que não era um país tão caro para comprar.

Apesar das dificuldades com a língua e com o custo de vida, os estudantes Daniel e Kereny recomendam outros estudantes a fazer intercâmbio e garantem que vale a pena:

– É bom fazer intercâmbio, é uma experiência motivadora e empreendedora. – reflete Kereny.

Daniel aposta no crescimento frente aos desafios que a experiência traz:

– O intercâmbio abre uma visão de mundo totalmente diferente e te leva a ser uma pessoa mais organizada e mais madura frente às situações da vida num país diferente do seu.

O intercâmbio sob a ótica de um docente
Foto 3 Joeldine Motta de Andrade
Foto: Joeldine Motta de Andrade

Com uma visão um pouco diferente, é possível notar um olhar mais realista do professor e jornalista Jacob Raul Hoffmann em relação ao intercâmbio.

Jacob crê que os docentes devem ter certa responsabilidade para com os alunos estrangeiros, já que, para ele, é importante acolher o aluno intercambista, valorizando seus conhecimentos e suas experiências. Daí também sai uma oportunidade de conhecer o lado do aluno também.

– A oportunidade possibilita o contato com pessoas que estudam comunicação fora do país com uma efervescência social, política e cultural, ressalta Jacob.

Em relação à dificuldades do contato entre aluno e professores, Jacob comenta que não é possível perceber nenhuma dificuldade, mas nunca dispensando uma atenção permanente.

– Podemos aprender mais com a presença e participação deles.

O mestre em Ciências da Comunicação acredita que a presença de intercambistas na turma acrescenta um grande valor, já que esses alunos agregam com perspectivas diferentes sobre determinados assuntos.

– Um conteúdo importante é o conjunto de informações sobre a cultura, as pessoas, a comunicação e outros aspectos sobre o país em questão.

Com relação ao número de intercambistas em suas turmas, Jacob diz ser muito baixo, acrescentando que não chega nem a um aluno por ano.

Voltando para a parte de experiência própria, o professor comenta que não chegou a fazer intercâmbio, mas que já realizou cursos fora do país como, por exemplo, no Chile.

– Já realizei cursos de especialização. Um deles foi no Chile, tratando de planejamento estratégico de organizações e comunidades. Uma experiência muito rica, com participação de pessoas de toda América Latina. Além do conteúdo, o aprendizado com a experiência de outros participantes foi único, enfatizou Jacob.

Texto: Denise Costa, Joeldine Andrade e Pablo Ribeiro